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Dentre
as cinco dimensões da gestão escolar, a gestão
participativa será
particularmente focalizada neste curso, já que implica em
diferentes formas da participação coletiva das comunidades escolar e local nos processos de gestão de recursos e
na construção da Proposta Pedagógica. O modo como ela é exercida pode ser
fortalecido por meio de ações que promovam, articulem e envolvam as pessoas na
gestão escolar. Sabemos que são comuns as queixas dos gestores de que “que têm
que fazer tudo sozinhos, que não encontram apoio dos professores, pais, alunos,
comunidade”. Tais gestores se sentem isolados em seu trabalho.
Então, cabe no momento a seguinte pergunta como reflexão: o que estará faltando nessa gestão escolar?
Respondendo à questão formulada, cabe, em primeiro lugar, aos
responsáveis pela gestão escolar promoverem a criação e manutenção de um
ambiente propício à participação de todos no processo social escolar. Ao
ganharem voz, os profissionais, alunos e pais podem desenvolver consciência
social crítica e sentido de cidadania (Lück, 2009).
A gestão participativa é fundamental para:
· melhorar
a qualidade pedagógica do processo educacional das escolas;
· garantir
ao currículo escolar mais sentido de realidade e atualidade;
· aumentar
o profissionalismo dos professores;
· combater
o isolamento físico, administrativo e profissional dos gestores e professores;
· motivar
o apoio das comunidades escolar e local às escolas;
· desenvolver
objetivos comuns na comunidade escolar.
Para
isso, é preciso construir um ambiente estimulador de participação da comunidade
escolar, tanto interna como externa, para que ocorra a mudança das relações
vigentes na escola. Essas ações são:
1.
promover um clima de cooperação e confiança entre todos os
participantes;
2.
valorizar as competências e habilidades dos participantes;
3.
valorizar as capacidades e aptidões dos participantes;
4.
estabelecer demandas de trabalho centrada em ideias e não em
pessoas;
5.
assumir responsabilidades conjuntas.
A gestão
participativa implica no envolvimento dos professores, no estabelecimento de
objetivos, na solução de problemas, nas tomadas de decisões coletivamente, no
estabelecimento e na manutenção de padrões de desempenho e na garantia da
qualidade da educação.
Esta participação pode ser promovida mediante atividades
diversas, tais como:
· participar
da elaboração e acompanhamento da Proposta Pedagógica da escola;
· envolver-se
na realização de atividades pedagógicas da escola;
· participar
das reuniões de pais;
· apoiar
as iniciativas de enriquecimento pedagógico da escola;
· colaborar
com as ações de parcerias e trabalho voluntário na escola;
· auxiliar
na aproximação entre a escola e a comunidade;
· participar
da gestão de recursos financeiros da escola.
A equipe
gestora que deseja fortalecer o vínculo entre professores e escola precisa
abrir espaço para que eles tenham a possibilidade de participar, expressando
suas opiniões, seus pontos de vista e suas soluções. Os professores precisam
ter oportunidades de vivenciar situações nas quais sejam consideradas suas
competências e autonomia, para, em seguida, melhor organizar situações de
aprendizagem em que os alunos também participem ativamente como protagonistas.
Assim como os alunos, os professores só podem se engajar e se conectar à escola
se construírem sua própria aprendizagem. As ideias da equipe gestora da escola
ou mesmo da Secretaria da Educação geralmente são ótimas e muito bem
intencionadas, mas só funcionarão se os professores se apropriarem delas, discutindo-as
e enriquecendo-as a partir de sua própria experiência e de seus conhecimentos.
Portanto, participação na escola requer ter vínculo com ela, ter voz e
pertencimento.
Vejamos
agora porque é importante promover o diálogo e a participação dos alunos na
sala de aula:
· Faz com
que os alunos sejam corresponsáveis pela escola. Aprender a participar da
escola ajuda a formar cidadãos capazes de participar na sociedade.
· Possibilita
aos alunos expressar suas opiniões, seus pontos de vista e suas soluções. Os
alunos ficam mais motivados a aprender quando as soluções para os problemas
partem deles.
· Pressupõe
que os alunos se beneficiam mais de diálogos do que de monólogos para seu desenvolvimento.
Aprendendo a fazer isso na escola, serão capazes de fazê-lo em outros
contextos.
· Possibilita
que os alunos se envolvam mais em seu próprio processo de aprendizagem.
As ações de gestão democrática estão carregadas de uma concepção
educativa que valoriza a autonomia da escola e dos sujeitos que a constroem. A
construção de espaços democráticos no âmbito escolar contribui para a
convivência democrática na sociedade. Por isso, reforçamos a importância da
participação dos alunos nos processos de tomadas de decisão na escola. Se a
escola, apesar das diferenças de papéis entre professores e alunos, incentivar
espaços democráticos e de convivência participativa, ela poderá promover a
construção e a assunção de valores universalmente desejáveis, tais como:
justiça, igualdade, diálogo, generosidade, altruísmo, tolerância, cidadania
etc. Muitos desses valores vão refletir nas relações de convivência na escola e
fora dela, propiciando oportunidades de interação e reflexão e favorecendo o
desenvolvimento integral de todos, afinados com os direitos humanos.
Para isso, destacamos a importância de incentivar a instituição
de Grêmios Estudantis, Assembleias Escolares e Círculos de Diálogo ou Rodas de Conversa. Os dois
últimos são espaços que permitem a participação coletiva dos alunos, por meio
da reflexão, do confronto de ideias e da troca de experiências entre os
participantes.
Referências bibliográficas
LÜCK, Heloísa. A escola participativa. O trabalho do gestor escolar. 6ª edição. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2009
________________________________________________Retomando o conceito de competências
Guiomar Namo de Mello, 2015
O conceito de competências não é novo tanto na psicologia como na pedagogia.
Sempre que se diz o que um aluno deve aprender e o que ele deve fazer com o que
aprendeu, estamos nos referindo a uma competência. Sempre se persegue a aprendizagem
de competência nos alunos porque é um objetivo do ensino propiciar mudanças que
caracterizem desenvolvimento, seja cognitivo, afetivo ou social. Mapeando o conceito,
destacam-se algumas características importantes mencionadas a seguir.
1. A competência se caracteriza como a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores, e
experiências anteriores para tomar decisões pertinentes numa determinada situação.
Envolve, portanto, mais do que comportamentos observáveis. Uma competência não se
deduz apenas do ato de fazer algo que pode ser objetivamente avaliado. Para constatá-
la devem ser considerados também os conhecimentos e valores que estão na pessoa e
que nem sempre podem ser observados.
2. Competências e habilidades pertencem à mesma família conceitual. A diferença entre
elas é determinada pelo contexto. Uma competência sempre é mais geral em relação às
habilidades que ela inclui. Mas uma habilidade, num determinado contexto, pode ser
uma competência por envolver outras sub-habilidades mais específicas. Por exemplo: a
competência de resolução de problemas envolve diferentes habilidades – acessar e
processar informações, selecionar e interpretar dados, estabelecer relações de igualdade
ou equivalência, fazer comparações. Mas se tomamos a habilidade de processar
informações por si mesma veremos que ela envolve várias outras habilidades mais
específicas como leitura de palavras ou gráficos, cálculos, compreensão de
ordenamentos ou sequências. Processar informações é, portanto, uma competência em
relação à habilidade de leitura de gráficos. Em suma, dependendo do contexto onde está
sendo considerada, a competência pode ser uma habilidade ou, vice-versa, a habilidade
pode ser considerada uma competência.
3. A capacidade de agir mobilizando conhecimentos e valores implica numa aprendizagem.
Portanto competências se aprendem, principalmente quando se adquire conhecimento,
que é parte indispensável do que é preciso dominar para ser competente. Mas além de
dominar o conhecimento é preciso saber mobilizá-lo e aplicá-lo de modo pertinente
àquela situação. Para isso é necessário decidir um curso de ação. A decisão significa
vontade, escolha e, portanto, valores. Essa é a dimensão ética da competência que
também é aprendida. A competência vai além do conhecimento porque envolve o agir
numa situação determinada: não é apenas saber, mas saber fazer. Para agir
competentemente é preciso acertar no julgamento da pertinência, ou seja, posicionar-se
diante da situação com autonomia para produzir o curso de ação mais eficaz. Por esta
razão a competência inclui também a decisão e ação em situações imprevistas, o que
significa intuir, pressentir, arriscar com base na experiência anterior e no conhecimento.
4. A competência envolve ainda capacidade de julgamento, em situações reais e concretas,
não apenas individualmente. Uma das dimensões importantes da competência é a da
decisão e ação compartilhada com um grupo de interesses comuns ou uma equipe de
trabalho, com objetivos comuns. Sem a capacidade de compartilhar interesses ou
objetivos, é difícil haver competência.
Usando um exemplo do senso comum seria possível afirmar que competência é tudo
aquilo que a gente deseja que um cirurgião tenha no momento em que se está nas mãos
dele para fazer uma cirurgia. Ou o que a gente espera que o comandante do avião tenha na
hora em que ele está descendo num aeroporto com o teto baixo e más condições de tempo.
O que a gente pensa nesses momentos? Será que este médico sabe como agir,
principalmente se algo der errado? Esse piloto sabe fazer o avião pousar em condições
atmosféricas tão adversas?
Em ambos os casos a competência para fazer o que se espera que seja feito
envolve uma enorme quantidade de conhecimentos – de física, de geografia, dos fenômenos
atmosféricos, do funcionamento da máquina – no caso do avião. Ou de anatomia, fisiologia,
técnica cirúrgica, no caso do médico. Mas cada fragmento de ação em ambos os casos vai
requerer que os profissionais envolvidos escolham procedimentos, decidam fazer ou não
fazer algo, em função não apenas do que conhecem, mas também em função de uma escala
de valores sobre o que é correto, o que é verdadeiro, o que é melhor em cada caso.
Esses exemplos permitem retomar o mapeamento do conceito para acrescentar
mais duas características indicadas a seguir.
5. Decisão e experiência têm uma relação peculiar na operação de uma competência. A
decisão muitas vezes implica em certo grau de improvisação, mas de uma improvisação
orientada pela experiência. O fato de que o piloto tem muitas horas de voo – com e sem
supervisão – é uma garantia importante de que ele consiga tomar uma decisão
pertinente. Não é por outra razão que se exige do futuro cirurgião cinco, seis anos de
residência, na qual ele observa e realiza inúmeras cirurgias com a supervisão da chefia
médica que a cada momento requer dele explicações sobre o que e porque está
adotando um determinado procedimento.
6. Decorre dessa característica da competência o fato de que ela só pode ser constituída
em situação. Ou seja, competência não se aprende apenas pelo saber mas requer o
saber fazer. Aprende-se fazendo na situação que requer este fazer determinado. Esse
princípio é crucial para a educação: se quisermos desenvolver competências em nossos
alunos teremos que ir além do ensino para memorização de conceitos abstratos e fora
de contexto. É preciso que eles aprendam também como, quando e para quê serve o
conhecimento, é preciso aprender a aplicá-lo.
7. Finalmente, deve-se acrescentar que o resultado, o saber fazer, é imprescindível, mas
não o suficiente para afirmar que existe uma competência. É preciso que esse resultado
seja o que é esperado, que esse fazer seja bem-sucedido, que o produto final de uma
ação seja satisfatório, correto, acertado. É fácil se dar conta dessa característica porque
a própria palavra competência traz implícita essa noção de acerto. Competência é quase
um sinônimo de capacidade, de sucesso, de fazer bem-feito. Dizemos “fulano” é
competente para fazer tal coisa e isso é suficiente para emitir um julgamento de valor
sobre essa pessoa.
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